domingo, 11 de setembro de 2011

[espaço do leitor] Subsídios para a história da Paróquia de Apodi - a construção e as restaurações da Igreja-Matriz (II)

A paciência e a resignação de alguns sacerdotes que passaram pelo pastoreio da Paróquia de Apodi constituíram-se em fiéis aliados à indiferença dos governantes do RN, diante a precária situação da estrutura física da Igreja-Matriz, numa saga que teve início em 1760. Alguns padres tiveram caráter mais resoluto e perspicaz, abrindo listas para subscrições dos paroquianos que reuniam condições pecuniárias para o contributo necessário para a realização das restaurações do templo espiritual. É certo que, devido as minguadas contribuições, as restaurações deixavam sempre a desejar, posto que feitas com material de pouca qualidade. Analisando-se a lista dos sacerdotes que passaram pela paróquia de Apodi, depreende-se que cerca de 90% curaram a Paróquia por apenas um ano, o que talvez teria suscitado nos mesmos uma certa indiferença ou comodismo. 

Os  anais  históricos  revelam  que  as  principais  restaurações  foram  empreendidas  por  vigários  que  ficaram  à frenteda  paróquia  durante  longos  períodos, como é o caso  do  Padre  FAUSTINO  GOMES  DE OLIVEIRA (1813  a  1856), que tinha  como  coadjutor  o  Padre  FLORÊNCIO  GOMES  DE  OLIVEIRA.  Assim  é  que, no  relatório apresentado  à  Assembléia  Legislativa  Provincial do RN, a  07  de  Setembro  de  1839, no  ítem  "Culto  Público", informa  o  Presidente  da  Província: " Que  pelas  informações  do  Pároco da Freguesia  eclesiástica  do  Apodi, consta  que  a  Igreja-Matriz  encontra-se  bastante  deteriorada, em tal  estado  que virá  a  cair  em breve, se  por  ventura  não  lhe  acudir  com  pronto  reparo. Pouco  circunstanciadas  são  as  informações  que  hei  recebido  de Párocos,e  os  orçamentos  mal  podem  habilitar-me  para  calcular  a  despesa  que  com  este  ramo  de  serviço  público  é  mister  fazer-se".(FONTE: Vide  livro  "FALAS  E  RELATÓRIOS  DOS  PRESIDENTES  DA  PROVÍNCIA  DO  RN" - 1835-1859  -  Coleção  Mossoroense/Fundação Guimarães  Duque  -  Série  G  -  nº  08 - Abril  de  2001). Baseado  nesta  informação, depreende-se  que  a  reconstrução  do  templo, que veio  a  ruir  no  ano  de  1784, fora  efetivado  de forma  precária  e  com  material  de  baixa  qualidade.

As  doações  feitas  por  paroquianos  desprendidos  do  materialismo, representavam  pouco, diante  as  prementes necessidades  estruturais  do  templo  espiritual.  Em 25  de  Outubro  de  1831 o pernambucano  GASPAR  DA  COSTA, radicado  em Apodi, onde  residia  no  seu  sítio "Estreito", fez  doação  de  parte  de  terras  no  sítio  denominado  "Garapa", no  valor de  50  mil réis  para  Nossa  Sra. da  Conceição  da  Matriz  das  Várzeas  do  Apodi, tendo  como testemunhas à  lavratura da  escritura    de doação  os  Srs. José  Sebastião  Maia (Avô  paterno de  Sêo  Vicente  Maia) e  Antonio Alves  de  Araújo  Maia.

Em  08.10.1853  o  Padre  FAUSTINO  GOMES  DE  OLIVEIRA  vendeu  ditas  terras,para  arcar  com  as despesas  destinadas  à  restauração, cujo  leilão  foi  realizado  em  primeira  e  segunda  mora  neste  mesmo  dia, finalmente  vendida em terceiro lance, no  dia  13.11.1853, com  lance  final  ofertado  pelo  Sr. FRANCISCO  MANOEL  DE  OLIVEIRA  COSTA (Pai  do  Padre Joaquim  Manoel  de  Oliveira  Costa - Conhecido  como  Padre  Barra, odenado em Olinda-PE  em  1845), na  quantia  de  285  mil réis.

Quase  todas  as  restaurações  feitas  na  estrutura  da  Igreja-Matriz  não  passaram  de  arremedos. Observe-se  que ela  desabou  sobre  as  campas  no  ano  de  1784, tendo sido  reconstruída  de  forma  rústica. Somente  no ano  de  1839 é que  se tem  notícia  oficial  da  solicitação  do  Pároco  de  Apodi  ao  Presidente  da Província, em que fez  exposição  do  acelerado  processo de  deterioração  em que se  achava  a  Igreja-Matriz. Há  um  longo  hiato na  história  da  construção  e  das  reconstruções  da  Igreja-Matriz.  Do  ano  de  1760  os  relatos  históricos  dão  um  salto  para  o  ano  de  1784, para dar  vez  a  outra  lacuna  que vai até  o ano de  1853, quando o  Padre  Faustino  vende  em  leilão  parte  do  patrimônio (terras)  para  arcar  com despesas da restauração.

Os  Presidentes  da  Província  do  RN  sempre demonstraram  uma  indiferença  doentia  para  com  as  necessidades  de restaurações  da  Igreja-Matriz.  Depois  do  ano  de  1839, somente  no  ano  de  1861  o  então  Presidente  da  Província, fez  a  avaliação  das  necessidades  da  restauração  da  Igreja-matriz  de  Apodi, nos  seguintes  termos: "Com  o  reboco das  paredes, conclusão da obra  do  átrio, soalho  da  torre  e  corredores, poder-se-á   gastar  a  soma de  900  réis  a  1:000 réis (Um  Conto de  réis), segundo informa  o  Pároco. O  cofre  provincial  não despendeu  ainda  qualquer  quantia  com  os  reparos  daquela  Matriz" (FONTE: "FALAS  E RELATÓRIOS  DOS  PRESIDENTES  DA  PROVÍNCIA  DO  RN - CM/ FGD - Série  G, nº 05 -  Abril  de  2001).

Surge  nova  lacuna  nos  anais  históricos, no  ítem  história  das  restaurações da  Igreja-Matriz, compreendida  entre  o período do  ano  de  1861  até  o  ano  de  1906, quando  o  dinâmico  e  profícuo  Padre  LÚCIO  GOMES  GAMBARRA (1904-1907) empreendeu  uma  cruzada  junto aos  Apodienses  que  se  destacavam  como  opulentos  comerciantes  na  praça de  Mossoró,  os quais  abriram  uma  lista  de  subscrições  com recursos  que  arcaram  com  as  despesas  de  cerca  de  80%  da  restauração  e  da  implantação  das  arcadas  e  do  oratório  do  Senhor  Bom  Jesus  dos  Passos. Esses  bravos  Apodienses  foram  os  Srs. JOÃO  FERREIRA  LEITE, LUIS  COLOMBO  FERREIRA  PINTO (Tio de Alice Pinto), Coronel  VICENTE  FERREIRA  DA  MOTA (Pai do Padre Mota),FRANCISCO  RICARTE  DE  FREITAS (Dono do Grande Hotel), Prof. FRANCISCO  ISÓDIO DE  SOUZA  e  IDALINO  GOMES  PASCOAL, que  angariaram  mais  subscrições  junto  aos  mossoroenses.  O renomado jornal  mossoroense  denominado  "O  COMÉRCIO DE  MOSSORÓ", em  sua  edição de  12.08.1906, dá  enfoque especial  ao  júbilo  dos  Apodienses, com  o  título "MATRIZ DO  APODY":

"Escrevem-nos  daquela cidade, e  movido  pelo sentimento de  amor à religião e  à  pátria  amada, que nos evangeliza o santo  evoluir das  idéias  grandes  e  sublimas, resolveu o nosso Vigário  Padre Gambarra  empreender  indispensáveis  reparos  em nossa  Igreja-Matriz.

O  nosso  tempo  edificado  em  sistema  antiquado  é  por demais  imperfeito. Urge agora  que o  melhoremos,levando-o  à arquitetura  moderna. Nesta  resolução  está  fortemente  empenhado o nosso Vigário, à  cujo  lado  acha-se  todo  povo  Apodiense auxiliando-o na  altura  de  suas  posses. O trabalho  está  confiado  ao  hábil  e  provecto  artista  Francisco  Paulino, de Mossoró, que tem nos  prendido  sobremodo  pela  correção   do seu serviço e  pelo  trato  lhano e  jovial. O  distinto  Coronel  Queiroz  tem  se  destacado  com  o  espírito forte  e  trabalhador, auxiliando  com louvável  empenho  ao  digno  e  incansável  Vigário.  Todo  povo  satisfeitíssimo, aguarda  o  termo  dos  reparos, para  ficar  possuindo  um templo belo  e  majestoso. Louvamos  este  santo empreendimento  e  damos  um  brado  de  avante  a  tão bom  povo  e  tão  trabalhador  Vigário".

A referência ao Coronel Queiroz: Trata-se da pessoa do comerciante ADELINO JOSÉ DE QUEIROZ, martinense radicado em Apodi, onde residia neste casarão senhorial onde durante muitos anos residiu a boleira e doceira dona Cotó. Neste casarão faleceu Adelino, em 16.09.1912, que fora casado com duas filhas do Prof. Joaquim Manoel Carneiro da Cunha Beltrão, a segunda núpcias em estado de viuvez. Um filho de Adelino, de nome THOMAZ BELTRÃO DE QUEIROZ foi Prefeito da cidade de Caxias do Sul-RS, sendo patrono de uma das principais avenidas daquela cidade do Sul do país.

Marcos PintoHistoriador e Presidente da Academia Apodiense de Letras.

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