Em
2004, a empresa americana de comunicação O’Relley Media chamou de “web 2.0″ a
segunda fase de uso/expansão da internet. A colocação definia àquela época o
que hoje é fato: a interação de usuários através de redes sociais e canais de
informação. A notícia deixou de ser bem e virou moeda. Com tanta liberdade
assim, os limites andam cada vez mais elásticos.
A
circulação de notícias de todo tipo ancorada na facilidade de diluição, fez da
internet uma Babel. Os blogs incorporaram a nova tendência, deixaram de ser
diários com confissões descartáveis e assumiram o caráter pretensioso de novos
veículos de mídia e jornalismo.
Desviando
os olhos do macro e focando na realidade local, é palpável o paradoxo
enfrentado pela horda de blogueiros potiguares, principalmente os que lidam com
a politicagem. A ferramenta de moderna comunicação foi incorporada ao fazer
jornalístico. O que não aconteceu com a linguagem e pior: trouxe consigo todos
os vícios das velhas redações.
Distorcendo
a tese de Millôr Fernandes, boa parte da blogosfera política potiguar faz
jornalismo na base do incômodo (disfarçado de oposição), para tentar vender
seus secos e molhados. A tradução de “web 2.0″ e “liberdade de comunicação” em
bom potiguês quer dizer: “o que eu não posso publicar no jornal que paga o meu
salário, serve pra ser negociado no meu blog”.
A
errônea noção de que na internet tudo é possível, vestiu os velhos hábitos com
a roupa nova da modernidade. Muito embora não haja como esconder as pelancas de
sempre. A título de informação circulam boatos, intrigas, fofocas, análises (ou
a falta de capacidade em fazê-lo) capengas – quando não risíveis – sobre
pesquisas, coligações, agentes políticos e cobranças públicas de interesses
privados.
Na
avalanche de “notícias” oficiosas, postadas como se fossem oficiais ou grandes
furos, anula-se o cuidado de guardar o que foi impresso, como nos velhos
tempos. Inclusive pelo leitor.
O
blogueiro potiguar da politicagem virou uma espécie de vidente da notícia.
Prevê e publica no atacado, acerta no varejo (justamente o óbvio) e não tem que
prestar contas dos seus erros. Afinal, um post pode ser deletado, ter a hora de
publicação alterada ou simplesmente ser esquecido. O tempo que se gasta
buscando a “barriga” é o suficiente para perder a
intriga/boato/fofoca/”análise” da última hora. O circulo é vicioso.
Incensados
por comentaristas que mais parecem torcidas organizadas (como se houvesse de
fato lutas políticas por estas bandas e não um imenso teatro de bonecos), os
blogueiros potiguares da politicagem viram mulas, como no tráfico. Cada um
trafica a sua droga a mando de um chefe maior embutido nas notinhas e nos
“fatos” repercutidos. Ou pior: esperando que apareça alguém para negociar. Os
usuários estão por toda parte. O percentual de pureza dessa droga é cada vez
mais baixo.
Só
o tempo, que trará à tona o que é real ou apenas interesse sujo no que é
divulgado por um blogueiro hoje, pode reparar o erro em que agora incorrem e
induzem os maus jornalistas. É impossível, até por ser recente, medir o estrago
e o alcance que essa novidade representa para uma campanha eleitoral e na
percepção que um eleitor/internauta pode ter dos protagonistas do pleito. Pode
ser que isso não custe a derrota numa eleição, mas certamente custará a
credibilidade de muitos.
A
higienização do espaço virtual depende, nessa fase de uso da rede mundial de
computadores, do leitor/internauta. A atenção deve ser dobrada. Afinal, está
cada vez mais difícil, posto que os nomes são aparentemente respeitáveis pelo
tempo que trabalham no meio, separar quais os blogueiros potiguares da
politicagem evoluíram em caráter e linguagem daqueles que continuam os primatas
de sempre.
Por
Rodrigo Levino