O
LUGAR E O TEMPO DE ROBINSON
- Robinson Faria escolheu
um lugar apertado, solitário e de ar rarefeito para passar os próximos quatro
ou oito anos. O vice-governador saiu da cerimônia de diplomação com o crachá
(auto-concedido) de pré-candidato à sucessão da governadora Rosalba Ciarlini.
Em 2014, se já não houver reeleição, ou em 2018, se reeleição houver. Salvo,
ele mesmo ressaltou, se outro nome apoiado pela governadora mostrar maior
densidade eleitoral. A declaração responde, por via indireta, a uma maldade
candente no mundinho da política jerimum desde que os dois se elegeram: em quanto
tempo afloraria o projeto pessoal do vice, tensionando a aliança e o governo.
Ao esclarecer a dúvida,
Robinson fez a manobra básica de qualquer pré-candidato: postular desde agora a
primazia no sistema, tentando amarrar apoios prévios e inibir eventuais
concorrentes. Mas, ao destacar-se da tropa, o vice coloca-se também no lugar de
alvo, dentro e fora do governo. Isso cria uma zona de tensão extra (e
desnecessária) no cenário já exacerbado pelas dificuldades que esperam os novos
gestores. E não terá agradado à governadora, embora certamente seja hipótese
posta ainda na negociação da chapa para 2010.
A lista conhecida de
secretários dá certo conforto a Robinson. Não parece haver ali nenhum nome com
patente para a disputa, mas a estrada é longa e tem desvios inesperados. O
tempo da política é diferente do tempo físico. O da política não é linear e
rígido. Ele se contrai ou distende, acelera ou freia, conforme o dom do
relojoeiro. A capacidade de compreender o tempo, lendo o seu conjunto de
circunstâncias, ou de criá-lo, antecipando lances definidores, distingue o
gênio político do talento mediano.
A história recente tem
exemplos de sucesso e de fiasco na aplicação dessa lei temporal. Em 1994, Wilma
tentou acelerar o tempo e se deu muito mal. Em 2002, soube ler as
circunstâncias e venceu facilmente. Micarla, em 2008, e Rosalba, em 2006 e
2010, conseguiram acelerar o relógio, queimando etapas e furando a fila das
“candidaturas naturais” postas com antecedência.
Como político experiente e
bem-sucedido, Robinson fez a declaração de candidatura de caso pensado. É uma
tentativa clássica de acelerar o tempo, forçando quatro anos antes o simulacro
de fato consumado. O açodamento do vice terá sido instigado pelos calos da
experiência. Em 2006 e 2010, ele pelejou pela unção do wilmismo nas eleições ao
Senado e ao Governo, sem sucesso. Sucumbiu a nomes e circunstâncias maiores que
as pesquisas e as táticas dele.
Robinson sai de 2010 maior
do que entrou, mais próximo (literalmente) da cadeira de governador e na
condição de secretário, o que lhe dá a mobilidade política e o controle de
recursos que não teria apenas como vice. Certamente o dote orçamentário e de
poder é inferior ao dos mandatos consecutivos como presidente da Assembléia
Legislativa. Porém, é bem mais do que qualquer outro recebe na partida do novo
governo. Agora caberá a Robinson os verdadeiros trabalhos de hércules:
mostrar-se confiável ao rosalbismo e aos aliados, impor-se aos eventuais
concorrentes internos e provar que acertou ao tentar acelerar o tempo da
política.
Como tarefa secundária,
terá de modificar ou suavizar traços de imagem que persistem, a despeito (e por
causa) da superexposição na presidência do Legislativo. O continuísmo
casuístico e a queda de braço com o Ministério Público, no caso da caixa-preta
da folha de pagamento da Assembléia, certamente não contribuíram para
fortalecer sua imagem de gestor. Ainda recentemente, ao ser sagrado secretário
de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos, foi alvo, em blogues e portais
noticiosos, de comentários atribuindo à empresa dele a destruição de manguezais
em Galinhos. Pode ser mera artilharia de adversários ou ex-aliados ressentidos.
Mas também pode ser indício de percepção negativa entre grupos interessados nas
questões ambientais.
Onipresente no varejo da
política, nos temas de atacado Robinson é um enigma a decifrar. Sabe-se que,
sob seu comando, a Assembléia promoveu atividades culturais, mas ignora-se o
que ele pensa sobre cultura. Conhecemos o projeto Cidadão sem Fome, que trocava
notas fiscais por comida, mas não o ideário do autor sobre as questões sociais.
Vemos e revemos a estampa do deputado na mídia, mas não lemos suas idéias sobre
agricultura, indústria, infraestrutura, geração de emprego, serviços públicos,
desenvolvimento e outros temas caros ao interesse popular.
A esse déficit de imagem,
somam-se outros, mais comezinhos porém relevantes num tempo de política
espetacularizada. Robinson tem baixo carisma, discurso frio e dificuldades no
trato com as câmeras e os microfones. Como agravante, a jovialidade um tanto
forçada, que, se faz algum efeito estético, é de efeito duvidoso na construção
simbólica de sua imagem. Talvez ele devesse repensar o figurino. Rebaixar o
talhe de tiozinho e acentuar os signos de maturidade. Seria um modo de harmonizar
essência e aparência, realizando o delicado equilíbrio que é a chave da
mistificação bem-sucedida. E sem mistificar(-se) direito, nenhum político tem
futuro.