domingo, 30 de outubro de 2016

Pobre Égua, Pai D’Égua e Filho de uma Égua (filosofia matuta)

Por Marcos Pinto

Certa vez, encontrei-me com um amigo cearense, residente em terras Tocantinenses, e que, no decorrer de nossa animada conversa, lamentamos a triste situação vivida pelas pessoas humildes, de completa pobreza franciscana.

Observei-lhe que a maioria é composta por pessoas resignadas e cheias de fé. De bate-pronto, ele me fez uma interessante observação, afirmando que existiam três tipos de pobres.

Pegando a deixa e, para satisfazer a minha curiosidade de matuto aruá de pé-de-serra, perguntei-lhe como esses pobres eram popularmente conhecidos. Sem pestanejar, respondeu-me:

- Existe o Pobre Égua, o Pai d’Égua e o fi duma Égua!.

Como o sertanejo é afeito em alongar conversas desse feitio, pedi-lhe que me explicasse como seria cada tipo desse, e, mais uma vez, sem sequer bater os olhos e mudar o rumo do olhar sobre a venta, explicou-me:

- Véio, o Pobre Égua é aquele besta, que não se valoriza nem valoriza a profissão que segue.
E continuou:

- Por exemplo, sendo pedreiro e uma pessoa contrata os serviços dele para fazer uma calçada, e pergunta-lhe por quanto ele fará dita calçada ele responde com humildade de cachorro vira-latas – “Qualquer coisa que me der tá bom pra mim !”.

Demonstrando grande prazer na descrição, fez questão de enaltecer a condição do pobre Pai d´Égua, nos seguintes termos:

- Agora esse eu dou valor e sou um deles! – e sabe porquê?

- Porque esse se valoriza como gente e como profissional. E como já “tamo” falando na profissão de pedreiro, quando lhe perguntam por quanto ele fará uma calçada ele já responde em cima da bucha:

- Só faço por tanto ! e se não quiser por esse preço vá procurar outro!.

Olhando para minha pessoa, já com ares de despedida, sapecou-me na cara:

- E quer saber do último tipo de pobre, que é o fi duma égua?.

- É o pior tipo que tem, pois ele “tando” bem, o resto que se lasque! Pode ser o pai dele, a mãe ou um irmão. Ele num tá nem aí. Ele “tando” bem, n-um tá nem aí para os outros.

Dito isto, já foi saindo, sem sequer se despedir dos que presenciaram tão interessante e inteligente filosofia matuta.

Marcos Pinto é advogado e escritor

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