Por Marcos Pinto
Certa vez, encontrei-me com um
amigo cearense, residente em terras Tocantinenses, e que, no decorrer de nossa
animada conversa, lamentamos a triste situação vivida pelas pessoas humildes,
de completa pobreza franciscana.
Observei-lhe que a maioria é
composta por pessoas resignadas e cheias de fé. De bate-pronto, ele me fez uma
interessante observação, afirmando que existiam três tipos de pobres.
Pegando a deixa e, para
satisfazer a minha curiosidade de matuto aruá de pé-de-serra, perguntei-lhe
como esses pobres eram popularmente conhecidos. Sem pestanejar, respondeu-me:
- Existe o Pobre Égua, o Pai
d’Égua e o fi duma Égua!.
Como o sertanejo é afeito em
alongar conversas desse feitio, pedi-lhe que me explicasse como seria cada tipo
desse, e, mais uma vez, sem sequer bater os olhos e mudar o rumo do olhar sobre
a venta, explicou-me:
- Véio, o Pobre Égua é aquele
besta, que não se valoriza nem valoriza a profissão que segue.
E continuou:
- Por exemplo, sendo pedreiro
e uma pessoa contrata os serviços dele para fazer uma calçada, e pergunta-lhe
por quanto ele fará dita calçada ele responde com humildade de cachorro
vira-latas – “Qualquer coisa que me der tá bom pra mim !”.
Demonstrando grande prazer na
descrição, fez questão de enaltecer a condição do pobre Pai d´Égua, nos
seguintes termos:
- Agora esse eu dou valor e
sou um deles! – e sabe porquê?
- Porque esse se valoriza como
gente e como profissional. E como já “tamo” falando na profissão de pedreiro,
quando lhe perguntam por quanto ele fará uma calçada ele já responde em cima da
bucha:
- Só faço por tanto ! e se não
quiser por esse preço vá procurar outro!.
Olhando para minha pessoa, já
com ares de despedida, sapecou-me na cara:
- E quer saber do último tipo
de pobre, que é o fi duma égua?.
- É o pior tipo que tem, pois
ele “tando” bem, o resto que se lasque! Pode ser o pai dele, a mãe ou um irmão.
Ele num tá nem
aí. Ele “tando”
bem, n-um tá nem
aí para os outros.
Dito isto, já foi saindo, sem
sequer se despedir dos que presenciaram tão interessante e inteligente
filosofia matuta.
Marcos Pinto é
advogado e escritor
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