Por Marcos Pinto
Quando nos encontramos com conterrâneos em longínquas terras e lugares,
ao primeiro contato e declarada a coincidência das nossas origens telúricas, o
coração já se encarrega de uma aproximação quase coercitiva. Digo coercitiva
porque essa afinidade é como que um imperativo sentimental comum a todos
quantos tenham a felicidade de nascer em terras do nosso amado APODI. Mesmo
diante diferenças políticas e ideológicas, predomina uma contagiante força
catalisadora que nivela diferenças e reforça sintonias. É uma afinidade tão grande
que tem forças de religião.
A nossa fértil serra teve o seu batismo toponímico feito pelo elemento
colonizador com o pomposo nome de "SERRA PODY DOS ENCANTOS". Nosso
município é o único lugar do mundo que tem 04 tipos de solos: Arenoso,
Argilo-arenoso, argiloso e pedra. Nós apodienses perseguimos preás nas
quebradas da imaginação. Recebemos, alvissareiros, as primeiras chuvas nos
baixios da saudade, cavalgando sonhos pelas ladeiras da infância. Temos um linguajar autêntico e inconfundível. Nada de rebuscado, de artificial,
de preciosista.
Tivemos um honrado conterrâneo (Na época em que nascera a cidade de Itaú
pertencia ao município de Apodi), de nome Clementino Noronha, popularmente
conhecido como Quelé, que era detentor da singularidade de vestir roupa
totalmente branca, feita em linho caro, da marca Diagonal, e que desfilava
garbosamente pelas ruas da nossa amada e nunca esquecida Apodi.
Por esse impecável modo no vestir, mesmo sendo de poucas posses
econômicas, tinham-no como "metido a importante" - coisa que não
procedia. Por apresentar esse perfil em seu modo de vida, sempre que alguém
tido como economicamente pobre "inaugurava" uma roupa nova, e botava
pose para chamar a atenção durante as festas da paróquia, ao passar nos arredores
da Igreja-Matriz de São João Batista e Nossa Senhora da Conceição, de
bate-pronto ouvia uma chacota de metido galhofeiro, que em alto e bom tom sapecava-lhe
de forma provocante:
- "Só quer ser as pregas de Quelé!. Não precisa dizer que o
"amostrado" acelerava os passos para sair, todo desconfiado, daquele
"ambiente pesado" e cheio de ironias. Exportamos esse exponencial
referencial para todo o Brasil, sendo certo que já foi até citado em um dos
capítulos de uma novela da Rede Globo de Televisão. Por essas e outras
minudências do nosso fértil rincão, é que ufano o peito e me orgulho em ser
APODIENSE. Inté!.
Apodi de São João Batista e Nossa Senhora da Conceição, aos treze dias
do mês de Janeiro de dois mil e dezessete.
Marcos Pinto - Comboieiro da Saudade e Aruá do pé da Serra Pody dos
Encantos.
2 comentários:
Nesse contexto sentimental apodiense, me vem à memória um lindo fato narrado por nossa distinta conterrânea Dodora S. Maia,intelectual de escol que, do ponto de vista do boçal dito metropolitano, protagonizou uma cena provinciana que beira as sublimes e benfazejas raias da matutice, mas que reflete um lindo bairrismo e um forte sentimento de irmão-siamês que nos une. Dodora encontrava-se em movimentada avenida da capital paulista, quando vê um conterrâneo se aproximando, ao longe, da parada de ônibus. Com o peito ofegante de tremenda alegria em ver um conterrâneo na azáfama paulistana, eis que Dodora se apressa para atravessar a movimentada avenida; Por muito pouco não foi vítima de atropelamento, pelo impulso de correr para abraçar um seu também alegre conterrâneo. Pela emblemática atitude da nossa sublime Dodora S. Maia, podemos encher o peito e afirmar, altivamente: Sim senhor ! – somos bairristas empedernidos com muito orgulho!.
Marcos você é uma pessoa única, pois admiro muito seus comentários, és um filho que jamais esquece suas origens. Tive a oportunidade,(embora em um momento muito triste), de ouvir sua linda homenagem, na missa de corpo presente do meu primo e amigo o então saudoso JACINTO PAULINO. Aquelas palavras a respeito de uma pessoa, que de verdade era legítima, todas pronunciadas a respeito daquela pessoa. Com certeza eu viajei no tempo. Tempo esse de menino matuto lá nos anos 70, quando eu vinha das Melancias para a cidade do Apodi, na rural de JACINTO, fazia questão, pois na época era o único transporte daquela pequena comunidade, homem bom sincero, saudades do meu velho amigo Jacinto Paulino, eu Carlos Paulino, te admiro muito, amigo Marcos.
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