quarta-feira, 26 de outubro de 2011

[leia] Artigo: O relógio e o temperamento de Robinson Faria. Vale a pena ir até o final…

O LUGAR E O TEMPO DE ROBINSON

- Robinson Faria escolheu um lugar apertado, solitário e de ar rarefeito para passar os próximos quatro ou oito anos. O vice-governador saiu da cerimônia de diplomação com o crachá (auto-concedido) de pré-candidato à sucessão da governadora Rosalba Ciarlini. Em 2014, se já não houver reeleição, ou em 2018, se reeleição houver. Salvo, ele mesmo ressaltou, se outro nome apoiado pela governadora mostrar maior densidade eleitoral. A declaração responde, por via indireta, a uma maldade candente no mundinho da política jerimum desde que os dois se elegeram: em quanto tempo afloraria o projeto pessoal do vice, tensionando a aliança e o governo.

Ao esclarecer a dúvida, Robinson fez a manobra básica de qualquer pré-candidato: postular desde agora a primazia no sistema, tentando amarrar apoios prévios e inibir eventuais concorrentes. Mas, ao destacar-se da tropa, o vice coloca-se também no lugar de alvo, dentro e fora do governo. Isso cria uma zona de tensão extra (e desnecessária) no cenário já exacerbado pelas dificuldades que esperam os novos gestores. E não terá agradado à governadora, embora certamente seja hipótese posta ainda na negociação da chapa para 2010.  

A lista conhecida de secretários dá certo conforto a Robinson. Não parece haver ali nenhum nome com patente para a disputa, mas a estrada é longa e tem desvios inesperados. O tempo da política é diferente do tempo físico. O da política não é linear e rígido. Ele se contrai ou distende, acelera ou freia, conforme o dom do relojoeiro. A capacidade de compreender o tempo, lendo o seu conjunto de circunstâncias, ou de criá-lo, antecipando lances definidores, distingue o gênio político do talento mediano.

A história recente tem exemplos de sucesso e de fiasco na aplicação dessa lei temporal. Em 1994, Wilma tentou acelerar o tempo e se deu muito mal. Em 2002, soube ler as circunstâncias e venceu facilmente. Micarla, em 2008, e Rosalba, em 2006 e 2010, conseguiram acelerar o relógio, queimando etapas e furando a fila das “candidaturas naturais” postas com antecedência.  

Como político experiente e bem-sucedido, Robinson fez a declaração de candidatura de caso pensado. É uma tentativa clássica de acelerar o tempo, forçando quatro anos antes o simulacro de fato consumado. O açodamento do vice terá sido instigado pelos calos da experiência. Em 2006 e 2010, ele pelejou pela unção do wilmismo nas eleições ao Senado e ao Governo, sem sucesso. Sucumbiu a nomes e circunstâncias maiores que as pesquisas e as táticas dele.

Robinson sai de 2010 maior do que entrou, mais próximo (literalmente) da cadeira de governador  e na condição de secretário, o que lhe dá a mobilidade política e o controle de recursos que não teria apenas como vice. Certamente o dote orçamentário e de poder é inferior ao dos mandatos consecutivos como presidente da Assembléia Legislativa. Porém, é bem mais do que qualquer outro recebe na partida do novo governo. Agora caberá a Robinson os verdadeiros trabalhos de hércules: mostrar-se confiável ao rosalbismo e aos aliados, impor-se aos eventuais concorrentes internos e provar que acertou ao tentar acelerar o tempo da política.

Como tarefa secundária, terá de modificar ou suavizar traços de imagem que persistem, a despeito (e por causa) da superexposição na presidência do Legislativo. O continuísmo casuístico e a queda de braço com o Ministério Público, no caso da caixa-preta da folha de pagamento da Assembléia, certamente não contribuíram para fortalecer sua imagem de gestor. Ainda recentemente, ao ser sagrado secretário de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos, foi alvo, em blogues e portais noticiosos, de comentários atribuindo à empresa dele a destruição de manguezais em Galinhos. Pode ser mera artilharia de adversários ou ex-aliados ressentidos. Mas também pode ser indício de percepção negativa entre grupos interessados nas questões ambientais.     

Onipresente no varejo da política, nos temas de atacado Robinson é um enigma a decifrar. Sabe-se que, sob seu comando, a Assembléia promoveu atividades culturais, mas ignora-se o que ele pensa sobre cultura. Conhecemos o projeto Cidadão sem Fome, que trocava notas fiscais por comida, mas não o ideário do autor sobre as questões sociais. Vemos e revemos a estampa do deputado na mídia, mas não lemos suas idéias sobre agricultura, indústria, infraestrutura, geração de emprego, serviços públicos, desenvolvimento e outros temas caros ao interesse popular.

A esse déficit de imagem, somam-se outros, mais comezinhos porém relevantes num tempo de política espetacularizada. Robinson tem baixo carisma, discurso frio e dificuldades no trato com as câmeras e os microfones. Como agravante, a jovialidade um tanto forçada, que, se faz algum efeito estético, é de efeito duvidoso na construção simbólica de sua imagem. Talvez ele devesse repensar o figurino. Rebaixar o talhe de tiozinho e acentuar os signos de maturidade. Seria um modo de harmonizar essência e aparência, realizando o delicado equilíbrio que é a chave da mistificação bem-sucedida. E sem mistificar(-se) direito, nenhum político tem futuro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem escreveu este texto, identifique.