Abordemos o
nosso saudoso personagem CHICO DE ABÍLIA.
Tinha um andar maneiroso e um olhar
curioso. De estatura mediana. Andava devagar. Tinha
sempre um sorrisozinho nos lábios e
um repente chistoso na ponta da
língua. Não se sabe por que tinha o
apelido de "DA MOÇA". O que nunca
lhe faltou foi uma anedota, uma história
hilariante, que ele, com a sua inteligência
fértil criava a qualquer pretexto, para
satirizar aquelas pessoas com quem não
sintonizava bem. Encontrei-o muitas vezes
no "Bar Satélite", lépido e fagueiro,
"arrodeado" de fregueses que se
agrupavam num revezamento constante. Para Chico
de Abília, não existia companhias melhores
do que a de ébrios inveterados -
tipos populares que formavam um grupo
variado de tipos humanos de variadas
tendências. Os assuntos surgiam e variavam
de acordo com as circunstâncias, e os
seus participantes iam, do "balanço da
vida alheia" à estórias engraçadas
alinhavadas pelo próprio Chico de Abília. A
irreverência e o humor faziam parte
da sua personalidade. Não poupava ninguém.
Dentre os
muitos CAUSOS protagonizados pelo Chico de
Abília, fui testemunha ocular de uma tirada
filosófica do mesmo, que até hoje
disparo em rir sozinho, só em lembrar-me.
Corria o ano de 1970, em que o
nosso município passava por uma calamitosa
seca. Para diminuir as agruras causadas, o
governo federal criou as famosas
"Frentes de Trabalho",também conhecida como
"Trabalhos da Emergência", contratando pessoas
para realizarem serviços de mão-de-obra em
estradas de rodagem e construção de
açudes, cujos trabalhos eram pagos em gêneros
alimentícios, evitando assim que muitas famílias
perecessem por inanição, ou seja, morressem de
fome. As pessoas que trabalhavam na
"emergência" eram conhecidas popularmente
como "Cassacos". A famosa SUDENE
(Superintendência para o desenvolvimento do
Nordeste) tinha a responsabilidade da
fiscalização dos trabalhos de mão-de-obra.
Os funcionários da SUDENE percorriam os
locais de trabalhos aboletados em veículos
do tipo "RURAL" , da indústria
automotiva WYLLYS, posteriormente comprada pela
FORD. Eram, em sua maioria, baianos - pretos retintos.
Tinham o "Café de Fãico" como
ponto de preferência para lanharem, sendo certo
que Fãico também vendia bebidas alcoólicas
e também refeições para almoço. Em um
determinado dia, eis que o presepeiro CHICO
DE ABÍLIA se encontrava muito bem
acomodado em um dos tamboretes de
Fãico, "tomando" umas "lapadas de
cachaça", quando não mais que de repente estaciona
uma Rural da SUDENE na frente do
prédio de Fãico, trazendo quatro negrões
baianos, cheios de pose e de arrogância,
para o costumeiro lanche. Conversa vai e
conversa vem, eis que o "escabriado"
Chico de Abília" solta uma indireta
para os baianos, ao que um deles "se
tocou" e disparou uma pergunta para
Chico de Abília:
- Rapaz,
nós somos altos funcionários da SUDENE!
Você sabe o que é a SUDENE?
De
bate-pronto Chico de Abília respondeu
"em cima da bucha":
- Sei sim!
É uma RURAL preta com uma faixa
branca pintada no meio com o nome
SUDENE, e quatro negrões da Bahia cheios
de pose dentro dela!.
Ao ouvirem
a inteligente e satírica resposta de
Chico de Abília, todos caíram em altas
"gargalhadas", o que fez com que os
baianos se retirassem imediatamente, após pagarem
seus lanches, calados e desconfiados. Não
sei mesmo explicar a afeição e a
afinidade que me prende à esses
tipos populares. São pessoas como nós
outros, que apenas desempenham o seu papel
no grande palco da vida, de uma
maneira diferente.
CHICO DE
ABÍLIA era irmão de Maria de Abília,
Mundica, Terezinha, Dedé de Abília, Ritinha, Tião e outros
que me fogem à memória neste momento.
Era filho de Luiz Vitor de Barros,
popularmente conhecido como "SINHÔ DE
COTA", e de dona ABÍLIA ROMANA LEITE.
Marcos Pinto – Historiador e
Presidente da Academia Apodiense de Letras.
2 comentários:
chico era um homem que só dizia a verdade não mentia igual os nossos politico de hoje, principalmente os politico de apodi.
luiz anizio.
O velho Chico de Abília eu o conheci quando estudava na E.E. Prof Antonio Dantas, na qual ele era vigia. Antes do início das aulas e nos intervalos ficávamos ao seu redor para ouvirmos suas estórias e causos, sempre com uma pitada de humor e irreverência, lembro-me também de uma frase que ele costumava dizer quando estava ébrio: "Quem tem medo de cagar não come".
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