domingo, 5 de junho de 2016

Subsídios para a história religiosa de Apodi - biografia do padre Philipe Bourel

Por Marcos Pinto.

No contexto do marco zero da implantação da civilização no território Apodiense, em especial o capitulo que trata dos primeiros mártires, que deixaram suas marcas existenciais de sangue, suor e lágrimas no venerando e sagrado solo desse belo rincão oestano-potiguar, sobressaem-se as expressivas figuras dos irmãos JOÃO NOGUEIRA e BALTHAZAR NOGUEIRA, cruelmente trucidados pelos índios Tapuias Paiacus a golpes de tacapes e bordunas, nas margens da lagoa do "Apanha-Peixes", fato ocorrido no dia 09 de Agosto de 1688.

Na saga dos martírios infligidos pelas doenças que infestavam as primitivas matas do sertão Apodiense, aparece a exponencial figura do sacrossanto padre Jesuíta PHILIPE BOUREL, que, segundo alguns historiadores, teria sucumbido à ação devastadora da febre amarela, naqueles remotos dias grassando pela densa vegetação nativa. Segundo relato histórico existente no volume V da Coleção "HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL" - Séculos XVII e XVIII, de autoria do Pe. Jesuíta SERAFIM LEITE, o Padre PHILIPE BOUREL faleceu no lugar denominado de "ALDEIA DO LAGO PODY" a 15 de Maio de 1709.

O venerando Padre PHILIPE BOUREL nasceu na cidade denominada "colônia", na Alemanha, no ano de 1659. Entrou para a Companhia de Jesus, cujos padres e missionários eram conhecidos como jesuítas, no dia 19 de Março de 1676, com a tenra idade de 17 anos. Quando aportou no Brasil, foi trabalhar nas Missões Jesuítas do lugar conhecido como "RODELAS DO SÃO FRANCISCO''.

Seguindo suas memoráveis e cristãs pegadas, encontramo-lo situado no Assú-RN, onde chegou no mês de dezembro de 1699, acompanhado do Padre JOÃO GUINCEL, sendo recebidos de forma hospitaleira e gentil pelo Mestre-de-Campo MANUEL ÁLVARES DE MORAIS NAVARRO, comandante do famigerado "Terço dos Paulistas", aquartelado na ribeira do Assú. Aportara na imberbe Capitania do Rio Grande já imbuído de catequizar os belicosos índios Tapuias Paiacus, da nação Tarairiú, vilados pelo Ouvidor MARINHO no ano de 1688, em lugar que ficou conhecido como "Córrego da Missão".

No Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa (Portugal) existe, meticulosamente guardada na Caixa RN-1, 07/04/1700, uma certidão lavrada pelo próprio padre Philippe Bouerel, na sua Missão do Podi, de cujo documento existe um Microfilme na Divisão de Pesquisa Histórica da Universidade Federal de Pernambuco.

A consagrada e celebrada historiadora FÁTIMA MARTINS LOPES transcreveu, na íntegra, dito documento histórico, inserido no livro de sua autoria intitulado "ÍNDIOS, COLONOS E MISSIONÁRIOS NA COLONIZAÇÃO DA CAPITANIA DO RIO GRANDE DO NORTE- pág. 254 - COLEÇÃO MOSSOROENSE - Série C - volume 1379 - Outubro de 2003. Vejamos:

"Certifico eu o Pe. Philipe Bourel, da Companhia de Jesus que vindo eu no mês de dezembro dos anos de 1699 do Assu para a Missão do Podi da nação Payaku pelo grandíssimo risco que havia, por ser necessário passar pela terra dos Maroduzes, por outro nome Jandoims nação fera e bárbara que não somente se tinhão gabado de me ver de matar a mim, mas em efeito depois me acometerão na minha Missão atirando com muitas espingardas, matando e cativando muita gente desta minha Missão.

Fui acompanhado pelo Capitão Joseph de Moraes, o qual vindo por cabo da mais tropa não faltou com alguma de sua obrigação provindo os postos, e ordenando sentinelas com muito cuidado; além de que por espaço de mês e meio não havendo nestes desertos nem moradores nem sustento me acudiu com todo o necessário buscando o com grande enfado e trabalho pelos matos; não menos acodindo assim por suas próprias mãos, como por um escravo que vinha a sua conta a levantar logo casa de sobrado para minha morada, e por isto assim lhe passei esta por mim assinada neste Podi nos anos de 1700 aos 7 do mês de Abril.

Philippe Bourel da Companhia de Jesus

Missionário da Igreja de São João Batista na Aldeia do Podi.

Imagine-se a precária e calamitosa situação vivida pelo Padre Philippe Bouerel. A situação de conflito constante entre colonos, indígenas e Missionários jesuítas levou o governo central a expedir o ALVARÁ RÉGIO DE 23 de novembro de 1700, ordenando que cada Missão recebesse uma légua de terra em quadra para o sustento dos índios e Missionários residentes, liberando legalmente o restante da terra para a colonização e obtendo a garantia do suprimento de mão de-obra aos colonos.

Há que se observar que nessa légua em quadra o Sargento-Mór de Entradas MANOEL NOGUEIRA FERREIRA invadiu, instalando sua fazenda num alto ou colina que ele denominou de "Outeiro", lugar onde nasceu o atual "QUADRO DA RUA", enfrentando resistência do Padre Philipe Bourel, por cujos apelos não logrou êxito, sendo certo que já no ano seguinte de 1701, Manoel realizava trabalhos de alinhamento do povoado, sofrendo embargo do sesmeiro Antonio da Rocha Pita. Nascia, assim, a atual cidade de Apodi.

Vejamos o que diz o Padre Jesuíta MATEUS DE MOURA, em carta enviada aos Superiores da Companhia de Jesus no Brasil, datada de 31.12.1711, a respeito da atuação do colega Pe. PHILIPPE BOUREL: "...O Pe. PHILIPE BOUREL com o irmão estudante BONIFÁCIO TEIXEIRA catequizam igualmente os não menos bárbaros paiacus. E como defende dos inimigos por meio de soldados de El-Rey, era muito amado deles e viviam em comum nas aldeias, ainda que saíam alguns meses durante o ano a recolher frutos do mato.

Por Marcos Pinto - Historiador apodiense

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