O
Globo
O
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ex-presidente da Casa
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), cotado para assumir um ministério em eventual
governo de Michel Temer, pressionaram a presidência da BR Distribuidora para
que a estatal comprasse a refinaria de Manguinhos, no Rio, com o propósito de
receberem propina. A acusação foi feita na delação premiada do ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró, que também exerceu o cargo de diretor da BR.
O
trecho que trata do assunto foi reproduzido em manifestação enviada pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF)
no último dia 28. Janot pediu na manifestação a ampliação da quantidade de
investigados no chamado inquérito-mãe da Operação Lava-Jato, com o acréscimo de
30 políticos, entre eles Cunha e Alves. A lista inclui ainda o ex-presidente
Lula e três ministros da presidente Dilma Rousseff: Jacques Wagner, Ricardo
Berzoini e Edinho Silva. Este inquérito é o único da Lava-Jato no STF que
investiga formação de quadrilha.
TEMA
FOI MENCIONADO À DIRETORIA
Cerveró
reproduziu num dos depoimentos da delação o que teria ouvido do então
presidente da BR Distribuidora, José Lima de Andrade Neto, numa reunião em
2013: “José Lima, em uma das reuniões informais da diretoria, na qual estavam
presentes todos os diretores, disse que tinha sido procurado pela segunda vez
pelos deputados Eduardo Cunha e Henrique Alves, que estiveram na BR
Distribuidora intervindo para que a estatal comprasse a refinaria de
Manguinhos.” A mesma pressão também teria sido feita, por telefone, pelo então
ministro de Minas e Energia, senador Edison Lobão (PMDB-MA), conforme Cerveró disse
ter ouvido de José Lima.
O
ex-diretor da Petrobras relatou a existência de “algum negócio” entre Cunha e
Alves e “um grupo ligado a Marcelo Sereno, que tinha ligação com (o ex-ministro
da Casa Civil) José Dirceu”. “Eles queriam resolver por intermédio da
Petrobras”, cita a delação.
Conforme
Cerveró, a pressão para a compra da refinaria foi motivada por “valores de
propinas que seriam recebidas”. “Ao final, o negócio não saiu, mas se essa
pressão fosse antes da deflagração da Operação Lava-Jato, com certeza essa
pressão seria irresistível, isto é, o negócio se concretizaria”, registra.
O
delator afirmou que se tornou diretor da BR, por indicação de Lula, em
reconhecimento à ajuda dada na quitação de um empréstimo do PT por meio da
contratação da empresa Schahin. Já José Lima teria chegado à presidência da
estatal por conta de um “vínculo político antigo” com José Eduardo Dutra, do
PT, e por ter atuado como secretário de Lobão no Ministério de Minas e Energia,
conforme a delação.
A
Polícia Civil do Rio já investigou a refinaria de Manguinhos por suspeita de
fraude na distribuição de combustíveis. Por conta de citações a Cunha em
conversas telefônicas de suspeitos, o deputado foi alvo de um inquérito no STF.
Em agosto de 2013, a pedido da Procuradoria Geral da República, o ministro
Celso de Mello determinou o arquivamento do processo, ressalvando que ele
poderia ser reaberto com provas novas.
PEEMEDEBISTAS
NEGAM ENCONTROS
Por
meio da assessoria de imprensa, Cunha desmente as informações. “Ele nunca se
reuniu com José Lima de Andrade Neto nem com Nestor Cerveró na BR Distribuidora
ou em qualquer outro local. Tampouco participou ou interferiu de alguma maneira
em negócios realizados pela distribuidora”, disse a assessoria.
Em
nota, Alves afirmou não ter tratado do assunto “em qualquer instância da
administração pública”: Nunca ouvi esse assunto ser tratado por ninguém.
Desconheço qualquer assunto igualmente com o senhor Marcelo Sereno. Nunca
estive com o presidente Eduardo Cunha na BR”.