Por Erick, O
Caçador
Trabalhei como
policial em Umarizal, cidade de 11.000 habitantes, entre 2014 e 2015. Quando
cheguei, a cidade era a mais violenta do Estado do Rio Grande do Norte,
conhecida em rede nacional de televisão como foco de pistolagem e Novo Cangaço.
Na minha última noite a serviço em Umarizal, conversei com várias famílias
tranqüilas e felizes, sentadas nas calçadas de suas casas - era "A PAZ DE
UMARIZAL" - que saiu da lista das mais violentas estatisticamente, com
grande satisfação da sensação de Segurança Pública.
Erick, O Caçador |
O que aconteceu
entre uma data e outra, foi uma epopéia (talvez um dia escreva um livro sobre o
assunto) em que não faltou sangue, suor e lágrimas. Foi um ano em que quase não
dormi e em que entrei de cabeça na Guerra contra o Crime e seus sustentáculos
políticos. Também bati de frente com empresários inescrupulosos de eventos,
playboys do pó e paredões de som, bem como suposta "gente de bem" que
acoitava bandidos do próprio sangue. Sobre o comportamento de certos Policiais
com quem trabalhei ... Dá outra novela da Globo. Coisas do Alto Oeste, digo para
mim agora, que sou veterano. O povo e a terra, aprendi a amar; Da covardia,
repugno.
Quando fui
transferido, a fama de Umarizal era de cidade em que a Segurança Pública tinha
dado certo e, pessoalmente, havia eu ganhado o apodo, que acolhi como um título
honorífico dado pela população, de "O Caçador". Dali fui ao Seridó,
em Currais Novos, onde me envolvi em outra página gloriosa de bom momento na
Segurança Pública nesse Estado, Graças a Deus. Elevo meus pensamentos para a bela
Currais, da qual tenho grata recordação.
Em pouco tempo
após chegar em Currais Novos, tive notícias do reinício do clamor popular por
Segurança Pública na Cidade de Umarizal, incluindo um movimento nas redes
sociais pedindo meu retorno (movimento "Volta Caçador") e diversas
passeatas pela cidade, em mobilizações populares históricas na Região. Por essa
época, alguns "colegas policiais" orquestraram uma enciumada e
contraproducente campanha de difamação da minha pessoa, o que lhes trouxe a
desconfiança da população em peso - e não foi bom para o serviço. De lá para
cá, assaltos, arrombamentos assassinatos à luz do dia e da noite (no centro da
cidade), lei do silêncio, invasões da cidade por quadrilhas de estouro de
bancos, retorno do coito interestadual de criminosos na região, povo aterrorizado
trancafiado em casa e fuga de policiais do serviço na cidade são o cotidiano.
Umarizal é faroeste de novo, infelizmente. E também é óbvio que
"alguém" ganha com a bagunça... Pois há uma conhecida "Operação
Abafa" a nível local (tipo: pessoas normais tem medo de falar que tem
medo, pois podem sofrer retaliações de certas "pessoas de bem", se é
que dá para entender).
Na data em que
escrevo, o Alto Oeste inteiro clama por Segurança Pública e há mobilização
inclusive das classes políticas locais em torno do tema ( uma raridade). Alto
Sertão abandonado à míngua de ações eficazes do Governo do Estado e repleto de
lideranças políticas locais mafiadas. Deslei. A Sociedade sofre. Algo positivo
será feito, efetivamente? Só Deus sabe!
E Umarizal, pobre
Umarizal - de tanta gente boa - a minha Gavião, de tão triste sorte, clama por
sua triste sina, sob o troar de tiros, a fanfarronice desculposa de frouxos, a
ousadia de fascínoras e as orações dos desvalidos.
Nunca fui chamado
pelo Escalão Superior da Segurança Pública para dizer como foi possível a
"PAZ DE UMARIZAL", exemplo, ou modelo, de trabalho que pode ser
reproduzido para outras cidades e, certamente reaplicado na própria Princesa do
Alto Oeste, por outros policiais dispostos e corajosos. Coisas da Segurança
Pública, digo para mim mesmo, agora que estou "passado na casca do
alho", como fala o povão. Em Currais Novos, cidade quatro vezes maior,
semelhante estratégia deu certo...
O que tenho a
dizer, enfaticamente, é que há solução. Vi e vivi isso, não posso depor o
contrário. Há milhares de testemunhas.
Mas... Como na
hierarquia da Segurança Pública sou um simples Agente de Polícia Civil, da
Classe mais baixa e sem condições objetivas de oferecer à população a quem sirvo
as soluções que merece, continuo lutando na Guerra Civil Imunda, no lugar onde
estou agora - e, a ti, Umarizal vão minhas orações.
Fiquem com DEUS!
Erick Guerra, O
Caçador
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