sábado, 22 de abril de 2017

A triste sorte de Umarizal/RN

Por Erick, O Caçador

Trabalhei como policial em Umarizal, cidade de 11.000 habitantes, entre 2014 e 2015. Quando cheguei, a cidade era a mais violenta do Estado do Rio Grande do Norte, conhecida em rede nacional de televisão como foco de pistolagem e Novo Cangaço. Na minha última noite a serviço em Umarizal, conversei com várias famílias tranqüilas e felizes, sentadas nas calçadas de suas casas - era "A PAZ DE UMARIZAL" - que saiu da lista das mais violentas estatisticamente, com grande satisfação da sensação de Segurança Pública.

Erick, O Caçador
O que aconteceu entre uma data e outra, foi uma epopéia (talvez um dia escreva um livro sobre o assunto) em que não faltou sangue, suor e lágrimas. Foi um ano em que quase não dormi e em que entrei de cabeça na Guerra contra o Crime e seus sustentáculos políticos. Também bati de frente com empresários inescrupulosos de eventos, playboys do pó e paredões de som, bem como suposta "gente de bem" que acoitava bandidos do próprio sangue. Sobre o comportamento de certos Policiais com quem trabalhei ... Dá outra novela da Globo. Coisas do Alto Oeste, digo para mim agora, que sou veterano. O povo e a terra, aprendi a amar; Da covardia, repugno.

Quando fui transferido, a fama de Umarizal era de cidade em que a Segurança Pública tinha dado certo e, pessoalmente, havia eu ganhado o apodo, que acolhi como um título honorífico dado pela população, de "O Caçador". Dali fui ao Seridó, em Currais Novos, onde me envolvi em outra página gloriosa de bom momento na Segurança Pública nesse Estado, Graças a Deus. Elevo meus pensamentos para a bela Currais, da qual tenho grata recordação.

Em pouco tempo após chegar em Currais Novos, tive notícias do reinício do clamor popular por Segurança Pública na Cidade de Umarizal, incluindo um movimento nas redes sociais pedindo meu retorno (movimento "Volta Caçador") e diversas passeatas pela cidade, em mobilizações populares históricas na Região. Por essa época, alguns "colegas policiais" orquestraram uma enciumada e contraproducente campanha de difamação da minha pessoa, o que lhes trouxe a desconfiança da população em peso - e não foi bom para o serviço. De lá para cá, assaltos, arrombamentos assassinatos à luz do dia e da noite (no centro da cidade), lei do silêncio, invasões da cidade por quadrilhas de estouro de bancos, retorno do coito interestadual de criminosos na região, povo aterrorizado trancafiado em casa e fuga de policiais do serviço na cidade são o cotidiano. Umarizal é faroeste de novo, infelizmente. E também é óbvio que "alguém" ganha com a bagunça... Pois há uma conhecida "Operação Abafa" a nível local (tipo: pessoas normais tem medo de falar que tem medo, pois podem sofrer retaliações de certas "pessoas de bem", se é que dá para entender).

Na data em que escrevo, o Alto Oeste inteiro clama por Segurança Pública e há mobilização inclusive das classes políticas locais em torno do tema ( uma raridade). Alto Sertão abandonado à míngua de ações eficazes do Governo do Estado e repleto de lideranças políticas locais mafiadas. Deslei. A Sociedade sofre. Algo positivo será feito, efetivamente? Só Deus sabe!

E Umarizal, pobre Umarizal - de tanta gente boa - a minha Gavião, de tão triste sorte, clama por sua triste sina, sob o troar de tiros, a fanfarronice desculposa de frouxos, a ousadia de fascínoras e as orações dos desvalidos.

Nunca fui chamado pelo Escalão Superior da Segurança Pública para dizer como foi possível a "PAZ DE UMARIZAL", exemplo, ou modelo, de trabalho que pode ser reproduzido para outras cidades e, certamente reaplicado na própria Princesa do Alto Oeste, por outros policiais dispostos e corajosos. Coisas da Segurança Pública, digo para mim mesmo, agora que estou "passado na casca do alho", como fala o povão. Em Currais Novos, cidade quatro vezes maior, semelhante estratégia deu certo...

O que tenho a dizer, enfaticamente, é que há solução. Vi e vivi isso, não posso depor o contrário. Há milhares de testemunhas.

Mas... Como na hierarquia da Segurança Pública sou um simples Agente de Polícia Civil, da Classe mais baixa e sem condições objetivas de oferecer à população a quem sirvo as soluções que merece, continuo lutando na Guerra Civil Imunda, no lugar onde estou agora - e, a ti, Umarizal vão minhas orações.

Fiquem com DEUS!

Erick Guerra, O Caçador

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