sexta-feira, 26 de maio de 2017

Jobim une Lula e FHC, mas não tem os votos do baixo clero

Se os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso se despirem dos discursos para a platéia e se reunirem num tête-à-tête, só os dois, para indicar o nome do candidato a ser eleito presidente do Brasil numa hipotética eleição indireta, ninguém tem dúvidas: será o ex-deputado, ex-presidente do STF e ex-ministro de ambos, Nelson Jobim. Ele é hoje, de longe, o mais habilitado a conduzir um eventual governo de transição até as eleições de 2018, seja pelo trânsito entre as principais forças políticas do país, a boa aceitação junto ao establishment econômico e a capacidade de negociação com o Judiciário, condição hoje essencial para pacificação do ambiente de guerra que se formou em torno da Lava Jato.

Nelson Jobim.
Mas quantos votos mesmo tem Jobim no baixo clero da Câmara? Poucos, o que o inviabilizaria se a eleição fosse hoje, e é bom não perder de vista que, mal ou bem, justa ou injustamente, esses serão os eleitores. O baixo clero e suas franjas votariam no deputado Rodrigo Maia, cuja escolha parece duvidosa para tucanos e peemedebistas. Investigado na Lava Jato, seria um tiro no escuro.

O tucanato, que quase abandonou Temer logo após a delação da JBS e recuou para valorizar seu cacife numa eventual sucessão indireta, tenta agora negociar um pacote que contemple todos esses personagens – menos o PT, é claro, adversário em 2018. Propõem uma chapa encabeçada pelo senador Tasso Jereissati, um respeitado e experiente homem público, tendo Rodrigo Maia como vice, Jobim como ministro da Justiça e, de quebra, mantendo Henrique Meirelles na Fazenda.

Seria um grupo eficiente para conduzir a aprovação das reformas, mas dificilmente a articulação vai vingar. Maia não tem por que concordar com ela, e desistir de sua campanha, trocando a presidência da Câmara pelo irrelevante cargo de vice. Jobim é, hoje, muito maior do que o cargo de ministro de quem quer que seja. E a tigrada do PMDB não vota em Tasso.

Do outro lado da praça, enquanto os aliados não resolvem essa equação, Michel Temer se debate para sobreviver, rejeita qualquer hipótese de renúncia e se prepara para convencer um ministro do TSE a pedir vista do processo de cassação da chapa no dia 6.

Michel sabe que está por um fio e que basta o desembarque do PSDB, a partir desse julgamento, para que caia de fato, ainda que não imediatamente de direito. Mas os tucanos, sob o risco de jogar o país no caos, só podem desembarcar quando tiverem a equação da sucessão pronta, o que parece ainda muito longe. A aposta do presidente é que não vão conseguir tão cedo.

Por Helena Chagas

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