EDITORIAL / FOLHA SP
O senso comum apontará o PT, decerto, como o partido mais
devastado pela Lava Jato e por escândalos de corrupção diversos — o que, dada a
projeção nacional de seus expoentes atingidos, será impressão das mais
razoáveis.
É interessante observar, todavia, o que acontece com a
mais enraizada das legendas nacionais, o PMDB, cuja resistência se deve, no
mais das vezes, ao poder de caciques e oligarquias locais.
Deixe-se de lado, por um momento, a batalha do presidente
Michel Temer para se manter no cargo; as agruras peemedebistas, assim como o
poder político da sigla, são bem mais descentralizadas.
Conforme noticiou esta Folha, nada menos que dez
presidentes de diretórios regionais do PMDB (alguns licenciados) são alvos de
inquéritos ou processos, sob suspeita de corrupção ou outros crimes.
Desse grupo, Geddel Vieira Lima (BA) cumpre prisão
domiciliar, e Henrique Eduardo Alves, preventiva. Ambos foram ministros do
governo Temer.
Todos são nomes fortes na economia interna do partido, a
exemplo de Eunício Oliveira (CE), presidente do Senado, Renan Calheiros (AL),
Romero Jucá (RR), Jader Barbalho (PA) e Jorge Picciani (RJ).
Faça-se a ressalva óbvia e necessária de que, nesta
etapa, não há culpa estabelecida de nenhum dos listados. Ainda assim, a
amplitude dos casos não deixa de ser reveladora dos rumos tomados pela sigla ao
longo de décadas.
Nascido como oposição consentida ao regime militar, o
antigo Movimento Democrático Brasileiro reunia ideologias e grupos
heterogêneos, sob o denominador comum de combate ao autoritarismo.
Depois de naufragar em sua primeira experiência de
governo nacional, com José Sarney, o PMDB se manteve forte no Legislativo, nos
Estados e nos municípios. Ao longo dos anos, tornou-se epítome do vazio
programático e do fisiologismo que grassam na vida partidária do país.
Quem quer que ocupasse o Planalto, o PMDB emprestava seu
peso, ou parte dele, à sustentação do governo, em troca de cargos e verbas. Tal
capacidade de adaptação deriva do DNA da sigla, um conglomerado de líderes
regionais a atuar com ampla liberdade, reduzida coordenação e nenhuma
ascendência uns sobre os outros.
Pelos mesmos motivos, dificilmente se verá entre
peemedebistas a iniciativa de punir dirigentes que incorram em malfeitos. Os
próximos anos dirão se isso será um trunfo ou uma fraqueza.
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