terça-feira, 18 de julho de 2017

PMDB: o fisiologismo e a corrupção de um partido que não teve nenhum presidente eleito diretamente


EDITORIAL / FOLHA SP

O senso comum apontará o PT, decerto, como o partido mais devastado pela Lava Jato e por escândalos de corrupção diversos — o que, dada a projeção nacional de seus expoentes atingidos, será impressão das mais razoáveis.

É interessante observar, todavia, o que acontece com a mais enraizada das legendas nacionais, o PMDB, cuja resistência se deve, no mais das vezes, ao poder de caciques e oligarquias locais.

Deixe-se de lado, por um momento, a batalha do presidente Michel Temer para se manter no cargo; as agruras peemedebistas, assim como o poder político da sigla, são bem mais descentralizadas.

Conforme noticiou esta Folha, nada menos que dez presidentes de diretórios regionais do PMDB (alguns licenciados) são alvos de inquéritos ou processos, sob suspeita de corrupção ou outros crimes.

Desse grupo, Geddel Vieira Lima (BA) cumpre prisão domiciliar, e Henrique Eduardo Alves, preventiva. Ambos foram ministros do governo Temer.

Todos são nomes fortes na economia interna do partido, a exemplo de Eunício Oliveira (CE), presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR), Jader Barbalho (PA) e Jorge Picciani (RJ).

Faça-se a ressalva óbvia e necessária de que, nesta etapa, não há culpa estabelecida de nenhum dos listados. Ainda assim, a amplitude dos casos não deixa de ser reveladora dos rumos tomados pela sigla ao longo de décadas.

Nascido como oposição consentida ao regime militar, o antigo Movimento Democrático Brasileiro reunia ideologias e grupos heterogêneos, sob o denominador comum de combate ao autoritarismo.

Depois de naufragar em sua primeira experiência de governo nacional, com José Sarney, o PMDB se manteve forte no Legislativo, nos Estados e nos municípios. Ao longo dos anos, tornou-se epítome do vazio programático e do fisiologismo que grassam na vida partidária do país.

Quem quer que ocupasse o Planalto, o PMDB emprestava seu peso, ou parte dele, à sustentação do governo, em troca de cargos e verbas. Tal capacidade de adaptação deriva do DNA da sigla, um conglomerado de líderes regionais a atuar com ampla liberdade, reduzida coordenação e nenhuma ascendência uns sobre os outros.

Pelos mesmos motivos, dificilmente se verá entre peemedebistas a iniciativa de punir dirigentes que incorram em malfeitos. Os próximos anos dirão se isso será um trunfo ou uma fraqueza.

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