Por Marcos Pinto
A redundância esposada no título contextualiza aqueles
raros momentos, eternos e eternizastes, alicerçados com tintas indeléveis em
nosso âmago. Alguém já afirmou que “o valor das coisas não está no tempo que
elas duram, mas na intensidade com que acontecem”. Todos nós temos esse
momento no instante, espiritualizando coisas e fatos inexplicáveis.
Quando o sentimento é verdadeiro o menos bom sempre é
preenchido pelo melhor. Guardamos na retina da saudade o último adeus de uma
pessoa querida, que recebeu o chamado do Supremo Arquiteto do Universo.
Não tenho dúvidas de que é pensando em coisas eternas que sentimos a
necessidade premente de transformar nossos momentos em inesquecíveis. É
aí, onde a sucessão dos dias alinhava tessituras perfeitas de sonhos e momentos
instigantes e irrefreáveis.
Por isso, quando a alma alcançar a concretude dos
sonhos, nunca esqueça de olhar ao seu redor para agradecer, em alma,
coração e vida a todos aqueles que de alguma maneira te deram a mão para
que pudesse chegar onde você está. Esse incerto caminhar, rumo ao
desconhecido, evidencia que a saudade é o preço que pagamos por ter vivido
momentos marcantes, que, às vezes, deixa um último abraço, um último
olhar, um último beijo, um último aconchego, uma última observação cheia de
acalanto, um último tudo no todo do nosso ansioso ser.
Nunca abra a guarda para que os medos que assomam em seus
caminhos lhe impeçam de mergulhar, de forma abissal, nos momentos sublimes,
inesquecíveis e inexplicáveis. Esses medos avassaladores e assustadores
podem se transformar em pilares para suas frustrações futuras. Pautemos
nossas vidas semeando a fértil semente do providencial ontem que se faz hoje.
É salutar que nos deixemos insuflar pelos liames invisíveis e
infinitos da divina benção, alvorecendo fé no amanhã
imensurável e terno. Por que não entregar ramalhetes de flores com
cheiros misteriosos, revelando-se na distância que se faz presença? Por que não
resistir às solidões vastas, devoradoras e cheias de pânico? De nada adianta
empreender desabalada fuga à dura realidade de que carregamos conosco uma carga
simbólica e social. Fiquemos atentos para não fomentarmos vinditas letais
que envenenam e anulam a alma.
Podemos e devemos formatar um esquecimento, emoldurando-o
em um imprescindível e divinal perdão. Há que se ater a uma perene
preocupação em não turvar as águas da vida com as asquerosas tintas da
corrupção e das iniquidades. Deixemos os nossos corações abertos à
convivência fraterna, à discussão de temas nobres e edificantes, mantendo
a chama do amor em contínua ebulição.
Mesmo diante de nossos contrariados interesses,
deixemo-nos dominar pela estima de sermos vistos como radicalmente capazes de
conviver com os contrários, sem perder a serenidade. Não
raro, ausculto a arguta e sutil observação prenhe de nitidez espiritual do
meu dileto e erudito primo François Silvestre, no que consiste às
tentações da carne: “Ao toque das mãos o tremelique em cima e o tição de fogo
embaixo”.
É nesse exato momento obsequioso que protagonizo o
resvalar para a ribanceira da madrugada dos vira-latas.
Inté!
Marcos Pinto é advogado e escritor.
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