Seguranças
retiram placa posta por manifestantes em frente ao Congresso Nacional, em
Brasília
Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
O Congresso nunca
foi tão detestado. Seis entre dez brasileiros reprovam os parlamentares que
deveriam representá-los. É a pior marca desde que o Datafolha começou a medir a
avaliação de deputados e senadores. Com as exceções de praxe, eles fizeram por
merecer.
O recorde de
rejeição vem coroar a legislatura que alçou Eduardo Cunha à presidência da
Câmara. Justiça seja feita, o correntista suíço não é o único culpado pelo
descrédito da classe. Ele chegou lá porque soube organizar a massa de políticos
que usam o mandato para fazer negócios.
O eleitor já conhece
os métodos da turma desde a longínqua CPI do Orçamento. A novidade da Lava Jato
foi atingir mais gente e pegar peixes mais graúdos que os "anões" de
1993. Além disso, a operação expôs as entranhas do comércio de leis, emendas e
medidas provisórias.
Graças ao
arrastão, estão na cadeia os últimos dois presidentes da Câmara. Seus três
antecessores também foram delatados e respondem a inquéritos no Supremo. O
atual presidente, Rodrigo Maia, reforça o time dos investigados. Estão na mesma
situação o presidente do Senado, Eunício Oliveira, e outros cinco peemedebistas
que ocuparam sua cadeira.
Como se isso não
fosse suficiente, a Câmara ainda engavetou
duas denúncias criminais contra o presidente da República. Quem
não passou os últimos meses em Marte sabe como essa blindagem foi garantida.
Vale lembrar que
os 513 deputados e 81 senadores não vieram de outro planeta. Foram eleitos
pelos mesmos brasileiros que reclamam. Em muitos casos, em troca de favores,
promessas de emprego ou dinheiro vivo.
A pesquisa
permite uma leitura otimista: com tanta gente insatisfeita, é possível que haja
maior renovação nas urnas em 2018. Por outro lado, o clima de repulsa à
política pode fortalecer candidatos autoritários, que vociferam ideias radicais
para ganhar votos. A história mostra que pior que um Congresso ruim é não ter
Congresso algum.
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