Foto Midia Ninja |
por Luis Jorge Natal
Tentei muito, muito, mas é impossível fugir de comentar a
execução criminosa da vereadora Marielle Franco. É simplesmente inacreditável a
quantidade de absurdos escritos por defensores radicais dos lados antagonistas
da atual conjuntura. Fui lendo e anotando excrescências expelidas por cada
lado. E algumas coisas me assustaram. Primeiro, por paradoxal que seja, há um
comportamento comum aos dois lados.
Todos têm a capacidade de vaticinar
verdades absolutas e, sem qualquer contradição, propagar mentiras absolutas.
Outro ponto comum é sobre a natureza do crime. Ambos concordam que foi um crime
político. E, no caso, estão certos, é assim mesmo que tem que ser encarado: foi
político. O que é diferente de ser partidário.
A direita tenta
desqualificar Marielle e relativizar a repercussão do crime. Coteja a morte
dela com outras mortes que tiveram menos espaço. Usa e abusa do discurso
fascista de que ela defendia bandidos e parte para a homofobia.
Há ainda um rol
grande de absurdos, notícias falsas e mau-caratismo explícito. Divulgam o mapa
de votação da vereadora como uma peça acusatória. Segundo esse tipo de gente, a
atuação política dela só poderia ser efetiva se tivesse sido votada pelos
pobres. Ora, o importante era a ação política e não de onde vieram os votos.
Aliás, nas favelas cariocas predominam os votos para os indicados pelas
milícias, traficantes e igrejas pentecostais.
Os petistas
tentaram e ainda tentam surfar na onda de indignação que tomou o País. Nesse
lado, a falta de caráter nadou de braçada também. Sem qualquer traço de
vergonha na cara, dirigentes, parlamentares, adeptos e seguidores partiram mais
uma vez para narrativas que buscam justificar a tese do golpe jabuticaba.
Textos e mais textos transformaram a vereadora na Joana D’Arc da causa deles. E
olhe que nem do PT ela era. Por fim, em nota, compararam o brutal assassinato
de Marielle com o perrengue pelo qual passa o líder e apenado ex-presidente.
Tentam ainda criar teses sociológicas rasas para justificar suas crenças cegas.
Desde que começou
o processo para afastar a irresponsável da Dilma, a rapaziada busca encontrar
um cadáver. Desta vez, acharam que tinham conseguido. Não foi ainda. A
sociedade não deixou. Assim como não abraçou as versões desonestas.
Surpreendentemente,
a melhor postura, a mais racional, é a da esquerda. Que tem analisado o
episódio com sobriedade, sem leviandade e prega que a justiça seja feita e os
assassinos punidos. Em alguns casos, o certo é seguir o dinheiro. Aqui, é saber
a quem interessa essa morte.
Unanimidade mesmo
só a TV Globo. Ninguém vê e todos criticam.
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